Revista Veja
Lula impulsiona sua candidata com o discurso retrógrado-nacionalista de que só o PT protege o petróleo e outras riquezas do país
Otávio Cabral
A perspectiva de que o petróleo pode ser o caminho para levar o Brasil ao patamar de uma grande potência econômica habita o imaginário coletivo desde o início do século XX. O escritor Monteiro Lobato foi um dos primeiros defensores da ideia. Nacionalista, ele montou uma empresa de pesquisa, perdeu tudo o que havia ganhado com a literatura e ainda acabou preso por ter criticado militares favoráveis à abertura da exploração de petróleo a estrangeiros. No governo do presidente Getúlio Vargas, na década de 50, os partidos de esquerda, entoando o mesmo discurso, levaram milhares de pessoas às ruas em defesa do monopólio da Petrobras. A crença na capacidade salvacionista do petróleo está tão arraigada em uma parcela da sociedade brasileira que mesmo nos períodos em que sopraram ventos mais liberais a privatização da Petrobras nem sequer chegou a ser discutida. Petróleo e política, em momentos distintos da história, também funcionaram como um eficiente combustível eleitoral - fórmula que será repetida pelo governo nas eleições presidenciais do ano que vem.
A estratégia oficial ficou evidente no lançamento, na semana passada, do marco regulatório para a exploração do petróleo na chamada camada do pré-sal - uma promissora reserva localizada no oceano, a 300 quilômetros da costa e a 7 quilômetros de profundidade. O novo modelo estabelece o monopólio de exploração da Petrobras, ao contrário do que prevê a legislação em vigor, que permite a participação de empresas privadas. O evento foi marcado pelo ufanismo, da decoração verde e amarela ao slogan "Pré-sal: patrimônio da União. Riqueza do povo. Futuro do Brasil". Há quem se tenha assustado com a decisão do governo de assegurar o controle estatal sobre uma riqueza da qual ainda nem se sabe a dimensão. O governo encaminhou ao Congresso os projetos que regulamentam o pré-sal estatal em regime de urgência. Empresários e políticos, até mesmo da base aliada, consideraram haver pouco tempo para decidir sobre um assunto tão complexo. A proposta criou atritos entre os governadores (veja o quadro abaixo), e líderes do governo chegaram a procurar Lula para pedir que ele retirasse a urgência, mas o presidente se recusou. Quer que o projeto seja aprovado até o início de 2010, para que a exploração comercial e, principalmente, política já comece no ano eleitoral. Seria isso parte de um plano federal em direção à estatização da economia?
O presidente Lula não tem uma concepção ideológica de estado. Se a bússola eleitoral aponta para o mercado, ele corre a escrever uma carta ao povo brasileiro, como fez em 2002, garantindo que os contratos serão respeitados - como de fato foram durante o seu governo. A crise econômica mundial, porém, abalou alguns paradigmas. O presidente foi convencido por alguns de seus mais influentes assessores, munidos de pesquisas, de que o discurso nacionalista ganhou um forte apelo popular e, por isso, pode ser o grande mote para alavancar a campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República.
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