Folha de São Paulo
VINICIUS TORRES FREIRE
Além de engordar Petrobras e criar a Petrosal, governo quer agora fundar uma petroleira experimental; com que roupa?
LULA ESTÁ com pressa de fechar a nova Lei do Petróleo. Para evitar discussão maior. Porque pretende fazer logo licitações, a fim de que o governo fature algum das empresas vencedoras. Está apressado porque quer a campanha do pré-sal na rua. Mas a quantidade de ideias novas e mal explicadas que vaza sobre o pré-sal sugere que a definição do projeto está longe do fim.
A ideia mais recente, exposta pela ministra Dilma Rousseff ao jornal "Valor", é fazer da Agência Nacional do Petróleo furadora experimental de poços. O objetivo seria o de mapear o potencial dos campos do pré-sal. Envolvidos na discussão dizem que a exótica possibilidade surgiu como solução de disputa política, de cessão de um naco de poder à ANP.
A primeira dificuldade da ideia é técnica e gerencial. Para fazer um ou "uns quatro furos", como diz Dilma, é preciso um "operador", o gerente do furo. Isto é, alguém que contrate equipes e equipamentos de sondagem, perfuração, avaliação geofísica etc. do poço em questão.
É o que faz uma petroleira responsável pela operação de "furar poço", para si própria ou para um consórcio de empresas. Em suma: é preciso criar tal equipe de gerência ou contratar uma petroleira, uma operadora.
Criar um equipe dessas não é nada simples: significa, grosso modo, criar uma equipe técnica semelhante à de uma petroleira. Contratar uma petroleira tampouco é fácil. Como são caros e escassos as equipes técnicas e os equipamentos necessários à exploração, uma empresa vai preferir reunir tais recursos para furar poços e faturar com o petróleo, não apenas para ser paga pela empreitada do furo, que pouco rende.
O que deve acontecer é a ANP contratar a Petrobras, que a isso seria "obrigada" pelo governo. A segunda dificuldade é a quantidade de furos necessária para fazer avaliação relevante das imensas áreas do pré sal. "Uns quatro furos" pode ser a quantidade de perfurações necessárias para definir as qualidades de apenas um bloco do pré-sal. Para que as prospecções da ANP tenham alguma relevância, seria preciso fazer dezenas de furos.
Isso custa caro, mas não só. Seria, de novo, preciso dedicar dezenas de equipes e conjuntos de equipamentos escassos para apenas fazer pesquisa. A ministra estima que os furos experimentais da ANP custariam cerca de R$ 250 milhões cada.
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