Folha de São Paulo
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SE O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou as dores da ministra Dilma Rousseff no intrigante embate de versões com Lina Vieira, ex-chefe do fisco, foi porque vislumbrou um risco no horizonte. Percebeu que o episódio ameaça respingar na candidata em quem concentra seus esforços de demiurgo.
O depoimento da ex-secretária da Receita, ontem no Senado, manteve todas peças no tabuleiro. Lina Vieira não trouxe elementos que provassem o encontro reservado que alega ter mantido com Dilma Rousseff, para tratar de uma investigação fiscal contra familiares de José Sarney.
Em entrevista à Folha, publicada em 9 de agosto, Vieira afirmou que, no final de 2008, foi convocada ao gabinete de Dilma Rousseff, onde teria recebido pedido para "agilizar" a auditoria em empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. A ministra nega a existência desse encontro a sós.
No Congresso, Lina Vieira manteve sua versão. Mencionou testemunhas, como o motorista que a teria conduzido até o Planalto, que talvez possam ajudar a esclarecer o enigma.
A prática de realizar encontros reservados de governo não pode ser condenada por princípio. O melhor, obviamente, é manter todos os registros públicos, mas, desde que não tratem de maquinações criminosas, tais reuniões, comuns em qualquer democracia, não são ilegais. Pode-se argumentar, do mesmo modo, que um pedido feito por um ministro para "agilizar" -desde que o sentido implícito não seja o de "encerrar"- certo processo não configuraria falta grave.
Mas essas questões se tornaram secundárias a partir do momento em que começou a pesar sobre a ministra da Casa Civil a acusação, esta politicamente grave, de ter mentido. O governo deveria ser o maior interessado em dirimir logo essa dúvida, oferecendo a escrutínio, por exemplo, as imagens do circuito de segurança do palácio.
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