BRASÍLIA - Após duas semanas de férias, o Congresso retorna hoje ao trabalho ainda em clima de conflagração. As duas semanas de recesso não foram suficientes para impedir o aprofundamento da crise, especialmente a do Senado, cujo presidente, José Sarney, volta ainda mais fragilizado do que ao sair - além de ser alvo de novas e mais graves denúncias, Sarney acabou se envolvendo num episódio de censura à imprensa, que mereceu o repúdio dos senadores da situação e da oposição.
Sarney volta com a intenção de ficar e enfrentar os adversários. Mas talvez tenha que sair novamente, pois aumentou a pressão por sua renúncia à presidência do Senado, e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva diminuiu o tom da defesa que até agora fazia do ex-presidente da República (1985-1990). O impasse, no entanto, preocupa o Palácio do Planalto, que teme a degradação política às vésperas do ano eleitoral.
O senador pretende apresentar o projeto de reestruturação do Senado logo nos primeiros dias após a volta do recesso. Com isso espera tirar o principal argumento da oposição para pedir o seu afastamento. Sarney também vai dar sequência à questão dos atos secretos que foram anulados (nas férias, aliás, apareceram atos ultrassecreto que tratam de salários no Senado). Depois pretende mergulhar.
No contra-ataque, faz questão de que seja feita uma representação do PMDB contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), enredado na crise por um pedido de empréstimo feito ao ex-diretor do Senado Agaciel Maia e por manter os vencimentos de um funcionário da Casa estudava no exterior.
O melhor cenário para Sarney é o de que se consolide uma avaliação hoje feita em todos os partidos: a guerra total não interessa a nenhum deles, seja no governo, seja na oposição, como demonstraria o caso de Arthur Virgílio. O Planalto teme que, se Sarney for defenestrado, o PMDB faça um ajuste de contas com o governo, transformando a CPI da Petrobras uma reedição da CPI do Mensalão. Sarney já dispõe até do argumento a ser usado: Lula não o segurou suficientemente. Além do desgaste político-eleitoral, o governo perderia também com eventual paralisação na votação de projetos de seu interesse.
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