Editorial do O Estado de S. Paulo- 17/07/2009
Mesmo no clima geral de achincalhe da política e da atividade parlamentar, consequência inevitável da parceria entre o presidente Lula e o coronelato que controla o Senado da República, ele passou da conta ao dizer que "todos eles (os senadores da oposição) são bons pizzaiolos". Lula respondia à pergunta de um jornalista sobre a possibilidade de a CPI da Petrobrás - a seu ver, "uma irresponsabilidade" - acabar em pizza.
A grosseria incomodou até os seus companheiros, como o líder petista Aloizio Mercadante, que se viu constrangido a soltar uma nota para criticar a "frase infeliz". Mas o que chama a atenção no episódio, além da absoluta naturalidade com que o presidente se permite ofender uma instituição legislativa, embora apequenada, é o fato de ser ele o primeiro a ligar o forno onde pretende ver incinerados os derradeiros vestígios de autonomia do Senado, no que possam contrariar os esquemas de poder do Planalto.
O comportamento rombudo da maioria governista na imposição dos nomes do presidente e do relator do inquérito parlamentar sobre a Petrobrás é um exemplo disso. Outro, na mesma linha, está na escolha do novo presidente do Conselho de Ética, no qual 10 dos 15 membros integram o bloco da situação.
Comprovando que o governo está determinado a não deixar aberta nem uma fresta sequer para o exame, no colegiado, das denúncias contra o senador José Sarney - de quem Lula se tornou arrimo -, o líder do PMDB, Renan Calheiros, fez eleger um pau-mandado, o seu correligionário do Rio de Janeiro Paulo Duque. Ele chegou ao Senado como segundo suplente do atual governador Sérgio Cabral e não pretende se candidatar em 2010. Nas últimas semanas, ninguém o superou na defesa de Sarney, nem em ênfase nem em primarismo.
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