Sem nenhum constrangimento, ou surpresa para muitos, o presidente Lula mudou o discurso e retirou, de forma inquestionável, o apoio político que vinha sustentando o senador José Sarney (PMDB-MA), na presidência do Senado.
"A falta de solidariedade política do presidente é inadmissível, mas é usual. Não é a primeira vez, há vários outros exemplos, e não será a última", lamenta o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
O senador Álvaro Dias (PR), também membro da CPI da Petrobras, lembra que o grau de interferência de Lula na crise do Senado e na defesa de Sarney foi o mesmo que o governo federal praticou contra a instalação CPI.
Segundo o autor do requerimento para criar a Comissão, ao tirar o apoio a Sarney, Lula agiu com vistas apenas aos seus interesses e às eleições de 2010. "O presidente, orientado por pesquisas de opinião pública, recuou e diz agora que crise é problema do Senado. Ele interferiu indevidamente, agora cede", destaca Dias.
Recuo
A declaração de Lula, na quinta-feira (31.07), foi feita pouco tempo depois de dizer que Sarney não poderia ser tratado como uma pessoa comum e que deveria ter uma biografia respeitada.
"Não é um problema meu (a permanência de Sarney). Eu não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem votei para senador no Maranhão”, disse o presidente. Esquecendo que, embora maranhense, Sarney foi eleito pelo Amapá.
Para o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM), o movimento de afastamento de Sarney é uma ação típica de Lula. "É do estilo dele. Resolveu ficar com a sua popularidade e largou o homem ao mar”, criticou.
O senador Tasso Jereissati (CE) também condena a ação do presidente no Senado. “A crise poderia estar resolvida se não fosse a interferência quase que autoritária do Lula junto ao PT, quando parecia que o próprio presidente Sarney estava, há dois meses, disposto a sair. Naquela oportunidade o próprio presidente Lula deu uma enquadrada no PT.”
Na Câmara dos Deputados, segundo a avaliação do líder da bancada, deputado José Aníbal (SP), a atitude de Lula “dá uma excelente oportunidade para o PMDB reavaliar sua aliança com o governo federal”. Para o líder, “até pouco tempo atrás o presidente rugia na defesa de Sarney, agora apenas mia, como um gatinho”.