Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
O mercado financeiro parece não ter se dado conta de que a capitalização da Petrobrás, prevista já para o primeiro semestre de 2010, vai drenar um volume descomunal de recursos. Se for bem-sucedida, o mínimo que se pode dizer é que terá enorme impacto no mercado financeiro e no câmbio.
Como já foi adiantado aqui no domingo, a União vai subscrever sua parcela no aumento de capital não em dinheiro, mas em petróleo físico das reservas ainda não cubadas, até o volume máximo de 5 bilhões de barris. É provável que o valor do óleo in situ oscile entre US$ 5 e US$ 6 por barril. A partir daí, um cálculo simples mostra que os 33% de participação da União no atual capital corresponderão à subscrição de algo entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões. E os acionistas não controladores (67% do capital) serão chamados a comparecer com US$ 50 bilhões a US$ 60 bilhões. A operação, de US$ 90 bilhões, será a maior subscrição de capital de uma única empresa em todo o mundo em todos os tempos, observa o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli.
É o que basta para que se formulem questões graves. Em princípio, os minoritários teriam interesse em desembolsar sua parte, pois a transferência de petróleo não sujeito a risco de reservatório (redução de produção) às reservas da Petrobrás é algo que não ocorre duas vezes na história de uma empresa. Mas há entraves importantes.
O primeiro é saber se o mercado terá dinheiro vivo para exercer sua parte. Se tiver, o saque de recursos aplicados em outros ativos tende a gerar impacto na remuneração da renda fixa e na Bolsa. Os estrangeiros detêm 27% do capital. Se subscreverem toda essa fatia, a entrada de dólares pode ser superior a US$ 15 bilhões. O Banco Central (BC) terá de montar esquema especial para impedir que desabe sobre as cotações do câmbio uma entrada tão forte de moeda estrangeira.
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