A decisão do governo de permitir o aumento da participação de investidores estrangeiros no capital do Banco do Brasil revela clara a fragilidade do falso discurso nacionalista usado pelo presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, para defender a Petrobras e as descobertas do pré-sal.
“É uma contradição impressionante”, resume o deputado Luis Carlos Hauly (PR). Atualmente os acionistas estrangeiros detêm 11,1% do BB. Com a nova medida que autoriza o Banco a aumentar a participação deles para 20%, a fatia privada de capitalistas internacionais no Banco será ampliada com a venda de papéis na Bolsa de Nova York.
De acordo com o presidente do Instituto Teotônio Villela, deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), a decisão do governo Lula mostra que as coisas boas que ele faz não são novas. “As novas é que não são boas”, comentou.
Depois de ter reeditado, com objetivos eleitorais, a campanha “O Petróleo é Nosso” e de ter feito novas acusações contra o PSDB acusando-o de ter tentado privatizar a Petrobras, o que nunca foi feito, o governo abre caminho para a capitalização financeira do Banco do Brasil atraindo investidores estrangeiros, os mesmos de quem costuma falar mal para afirmar sua demogogia.
Para o deputado Rodrigo de Castro (MG), secretário-geral do PSDB, a medida do governo petista coloca em xeque o discurso com o qual costuma atacar os opositores, a quem já chamou de “os adoradores do deus mercado”. “O presidente Lula, nas eleições de 2006, acusou o PSDB de fazer o que ele está fazendo agora. É totalmente contraditório”, disse Castro.
A contradição entre prática e discurso do governo Lula não é recente. Ainda em 2006, no começo do seu segundo mandato, o presidente Lula deu início à privatização das florestas brasileiras. No oeste do Pará foram realizados os primeiros contratos de execução dos planos de manejo sustentáveis.
Um ano depois, o governo privatizou as rodovias federais em seis estados do país em leilão na Bovespa. Na ocasião, o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, já mostrava que o argumento do PT contra a privatização e concessão de bens públicos era apenas eleitoreiro. Mais uma vez, o mesmo se revela com o sinal verde para o aumento da participação estrangeira do maior banco do país.
Para Velloso Lucas, o governo erra quando tenta atacar os mecanismos financeiros amplamente aceitos no mundo. “O governo erra quando tenta fazer algo diferente”, disse. Ele também defendeu a democratização do mercado de capitais no Brasil. “Precisamos disseminar a cultura de ser acionista de empresas e tornar o capitalismo no Brasil mais social e menos monopolista”, disse ele.